sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A era da ignorância

Estamos vivendo a Era da Ignorância. O conhecimento já vem enlatado, com imagens coloridas e muito, muito simplificado. A informação on-line acessível e rápida não permite o aprofundamento necessário à construção do verdadeiro saber. Nesse contexto, os livros são caros e raros. A maioria aposta no “ouvi dizer”. É a ignorância travestida de cultura.

Este é o tempo em que cada dia mais e mais analfabetos funcionais recebem diplomas de licenciados e de bacharéis. Poucos sabem ler; muitos nem sequer escrevem para sobreviver ao dia-a-dia. Os diplomas não passam de estratégias de marketing para o mercado de trabalho, meros adereços de currículos vazios... Como chegamos a esse ponto?

Parte da culpa é do consumismo da era do fast food que afetou também o ensino superior. Os vestibulares de ingresso são feitos ao gosto do freguês. Os cursos de graduação encurtaram: passaram inicialmente de quatro para três e depois para dois anos. Agora, a moda mesmo é ensino a distância. Também as pós-graduações nacionais sofreram essa perniciosa influência. Tudo tem de ser rapidinho, o doutorado não pode exceder a quatro anos...

Em busca de resultados, as pessoas desinteressaram-se pelo conhecimento puro. Isso é comprovado pelo desempenho dos estudantes avaliados pelo Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM). O índice de aproveitamento nunca foi tão baixo. Em todas as 27 unidades da Federação, a média foi inferior a 40 pontos, quando a média exigida é de 45. Nesse perturbador quadro nacional, só as instituições privadas alcançaram marcas melhores do que as escolas públicas.

E qual a conseqüência disso? É o aumento da indústria da ignorância, milhares são diplomados a cada ano. Mas esses ditos profissionais são reprovados em exames diversos, como os da Ordem dos Advogados ou em concursos públicos em que só um reduzido número logra aprovação.

Como anda o seu interesse pelo conhecimento? Existe realmente ou você tem “pego o bonde andando”? Você é adepto do achismo? Todo mundo acha alguma coisa sobre tudo. Não há comprometimento pessoal com o saber. É mais fácil o “oba-oba”. Não é preciso muito esforço para assistir às enxurradas de bobagens. Muitos pegam carona no “conhecimento alheio” e sempre “acham alguma coisa para dizer”.
É evidente que existe um novo cenário e que os paradigmas culturais mudaram. Mas, em qualquer circunstância, é necessário conhecimento sério que inspire confiança. Afinal, o sábio busca incessantemente o saber, pois sabe que nada sabe, mas o ignorante sempre se comporta como se tudo soubesse...

Josenia Antunes Vieira – doutora em Lingüística, professora da Universidade de Brasília – ascoso@gmail.com

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